Winnicott utilizou-se da expressão “mães boas o suficiente” para referir-se a uma maternidade real, concreta, não idealizada, que favorece o desenvolvimento da criança, afastando-se dos conceitos de perfeição da psicanálise clássica, no sentido que tudo seria potencialmente daninho à criança.
A ideia de “bom o suficiente” pode ser aplicada a outras esferas da vida, pois assume que nada nunca será perfeito, mas pode ser suficiente para trazer-nos saúde e bem-estar. É importante refletir sobre o que precisamos para estar bem, de um ponto de vista realista, sem idealizações.
Em um relacionamento amoroso, por exemplo, onde os conflitos e as diferenças são naturais, permanentes, não esperamos que o outro se ajuste a nossas expectativas, mas é importante termos claridade sobre que tensões somos capazes de suportar, que vazios são negociáveis, e quais são alicerces do nosso bem-estar, que não podemos abrir mão. Estas características estão relacionadas a hábitos, visões de mundo e traços de personalidade.
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onsigo conviver com uma pessoa ciumenta? Ou esta atitude é insuportável para mim? Sou capaz de negociar uma casa desorganizada, ou a organização é tão fundamental em minha vida que não tê-la me adoece? É fundamental para mim que a pessoa divida de minhas crenças religiosas? Que pratique exercício físico comigo? Que pensemos de forma parecida sobre o que é a vida? Que nossos trabalhos sejam complementares?
As possibilidades são infinitas e assumem diferentes níveis de complexidade. O importante é atentar-se que para cada pessoa, cada situação assumirá um nível de importância e intensidade emocional distinto. Aquilo que para você é indiferente, ou pouco importante, para a outra pessoa pode ser indispensável. Indispensável para que? Para que ela se sinta bem, segura, confortável, contente. Julgar a intensidade com que cada pessoa vive suas necessidades inibe o diálogo e qualquer possibilidade de boa convivência. “Por que você liga pra isso? Isso não importa!”, é uma frase típica de incompreensão e falta de empatia, e acende uma luzinha de alerta com relação a se é possível uma convivência saudável.
Chamo de convivência saudável aquela que parte da decisão de ambas as partes em estarem juntas: estou porque quero, porque me faz bem, porque desejo, porque cresço, aprendo, me motivo. A convivência sem saúde, ou tóxica, é aquela que se mantém por comodidades práticas, carência ou baixa autoestima: “nossa vida financeira já está organizada”, “seria muito ruim para os nossos filhos se nos separássemos”, “se me separar, não vou encontrar mais ninguém”, “sou uma pessoa difícil e é ele quem consegue me aturar”, etc.
Como a vida não é dicotômica, é comum que ambas as razões coexistam: eu posso sentir que cresço na relação, e desejá-la, mas ao tempo sentir-me pressionado pela estabilidade financeira e pelos filhos. Às vezes, nos momentos turbulentos e mais vulneráveis (que todos passamos periodicamente), posso ficar confuso sobre que parte está me influenciando mais, e duvidar sobre o que me mantém na relação. É fundamental, como hábito – não apenas na fragilidade -, refletir sobre o que nos mantém em uma relação, diariamente. Não somos capazes de sustentar por muito tempo, com saúde, uma relação motivada principalmente por razões “tóxicas”. Os sintomas aparecem, o sofrimento aumenta, muitos aspectos da vida começam a não dar certo. É uma bola de neve.
Por mais simples que pareça, reconhecer as próprias necessidades não é uma tarefa fácil. Exige uma grande dedicação ao trabalho interior, autoconhecimento, reconhecimento de habilidades e dificuldades, e na correria do dia-dia, é comum pouco ou nada nos dedicarmos a isso. Dá trabalho, é exigente, requer percepção ampliada sobre si. Do mesmo modo, perceber o outro e perceber a relação como realidade que tem vida própria também é muito exigente, requer esforço, dedicação e tempo. Normalmente, nos deixamos embalar pelas emoções mais diretas e vamos levando na superficialidade, sem nos aprofundar em nós, no outro ou na relação. Ficamos no pé da reatividade, não da reflexividade, postura que tende a escalar os conflitos (sempre existentes), por negligenciá-los ou não lhes dar a devida atenção. As consequências desta postura são das mais diversas, desde trocas incessantes de parceiros amoroso, até a manutenção de relações falidas (que muitas vezes poderiam, sim, ser reestruturadas) durante muito tempo, trazendo grande sofrimento e insatisfação geral com a vida, podendo incentivar, inclusive, outros hábitos ou vícios nocivos, em uma busca legítima, porém desorganizada e inconsciente, pelo prazer.
Ajuda-nos pensar sobre como cuidamos das plantas: que nutrientes esta flor precisa pra crescer? Que condições de luminosidade e temperatura? Qual a medida certa de água, e com que frequência? E finalmente: uma vez conhecidas as condições, sustentá-las ao longo do tempo, diariamente. Não adianta conhecer minhas condições de florescimento e não vivenciá-las no dia-dia.
Diferente das plantas, nós, humanos, mudamos. Mudamos com as experiências, com as pessoas que conhecemos, com os trabalhos que realizamos, os lugares que visitamos… Nosso potencial transformador é incrível, mas desafiante: minhas condições de florescimento também mudam. Por isso, a importância de manter a atenção plena sobre si mesmo como rotina. A mudança é inevitável, e nem sempre escolhemos sua direção, mas sempre estará em nossas mãos a maneira como lidamos com ela. É sobre o que você faz com o que a vida faz de você, disse Sartre.
Enquanto dançamos entre aquilo que a vida faz de nós e o que fazemos dela, o tempo passa. O tempo é a oportunidade que temos para agir, viver, experienciar, permitir. O tempo é esperança. Enquanto pensamos, sentimos, experimentamos, existimos; e enquanto há vida, há possibilidades. Caso você se pergunte se ainda há tempo, o ato de perguntar é sua resposta; a reflexão, seu pontapé inicial.
Enquanto há vida, há esperança.
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